Por Márcio Norberto
No Brasil, o setor de self storage cresce de maneira sustentável e contínua, haja vista as pesquisas que a Associação Brasileira de Self Storage (Asbrass) divulga regularmente e que mostram o fôlego do setor. No entanto, o crescimento acontece de maneira mais acelerada em certas regiões do país e isso ocorre em razão de vários fatores, entre eles o de maior concentração populacional em determinadas regiões, infraestrutura e setor produtivo mais adensado em certos estados. Estas características podem ser observadas nos diversos setores econômicos os quais se desenvolverão de maneira mais ou menos intensa conforme a realidade local.
Em relação ao self storage, não há dúvida de que há muito trabalho pela frente para que o setor ganhe musculatura nas diferentes partes de um país gigante como o Brasil e por isso mesmo o olhar estrangeiro e as informações que pode trazer do cenário internacional são revelantes para o mercado local. Sobre o andamento do setor aqui no país e as perspectivas para 2023, conversamos com Judson Shannon, investidor e CEO na Guarda Brasil. O empresário dirige também a empresa Punta Box no Uruguai, além de administrar empresas de self storage da família nos Estados Unidos. Shannon esteve no Brasil para acompanhar a 8ª edição do Brasil Expo Self Storage, realizada no mês de outubro.
ASBRASS: Qual a importância do evento Brasil Expo Self Storage para o mercado brasileiro?
JS: Acho que o evento é importante para reunir operadores de self storage de várias cidades do Brasil para que possam compartilhar suas experiências pessoais e conhecimentos do setor e ajudá-lo a continuar crescendo.
ASBRASS: Como você avalia o atual momento do mercado de self storage no Brasil?
JS: O momento atual parece ser impulsionado principalmente por Guarde Aqui e Goodstorage, apoiados por investimento institucional, e que estão se expandindo rapidamente em São Paulo, em comparação com instalações de autoarmazenamento muito menores, crescendo a um ritmo mais lento nas outras regiões do Brasil.
ASBRASS: Você é investidor na Guarda Brasil, qual a sua projeção para o mercado no próximo ano?
JS: Na minha opinião, dois componentes críticos determinarão o crescimento da indústria nos próximos anos: 1) as mudanças no ambiente político e 2) se haverá ou não uma recessão global que atrapalhe o crescimento. Eu acho que haverá uma recessão em algum momento nos próximos dois anos. O desafio será se adaptar a isso.
ASBRASS: Você avalia que o mercado de self storage no Brasil continuará crescendo nos próximos anos e o ambiente será bom para novos negócios?
JS: Se você comparar com os Estados Unidos, Europa e Austrália, os dados comparativos indicam que há muito espaço para crescimento. Mas também devemos estar cientes de que a renda per capita no Brasil é substancialmente menor do que nos países acima. Devido ao tamanho do mercado brasileiro de self storage e a falta de conhecimento, especialmente fora de São Paulo, a concorrência em comparação com os Estados Unidos é muito mais sensível aos horários de locação e aos preços em muitos mercados. Essas variáveis devem ser antecipadas nas projeções.
ASBRASS: Existe diferença entre o modelo de negócio brasileiro e o americano?
JS: Os Estados Unidos são substancialmente mais evoluídos na indústria de self storage, com aproximadamente 60 mil instalações. Possuem também um mercado de financiamento e dívida muito avançados que permite um crescimento muito mais rápido. Self Storages nos Estados Unidos também são muito mais líquidos para vender as instalações. Existem taxas de CAP (Capitalization Rate) estabelecidas para autoarmazenamento e corretoras de imóveis que podem vendê-los facilmente. Além disso, quase todo o público americano sabe o que é um self storage. Então você não precisa educar o público.
ASBRASS: Os brasileiros estão ainda conhecendo o self storage, na sua opinião o que precisa ser feito para tornar o mercado mais conhecido no Brasil?
JS: Neste momento parece que o maior conhecimento do setor está localizado em São Paulo, impulsionado por Guarde Aqui e Goodstorage. Por exemplo, quando visitei a conferência da Asbrass, pedi a um taxista que me levasse ao Goodstorage. E ele sabia quem era e onde estava localizado. Mas ambas as empresas têm mais de 20 instalações e gastam muito em marketing. Isso ajuda na conscientização. Nas cidades menores, acho que cada um de nós tem que comercializar nosso negócio e comunicar claramente qual é o nosso negócio. Eu também sinto que a Asbrass precisa estabelecer um painel que tenha vários estados ou cidades representados para ajudar na conscientização. Esta é a segunda vez que participo da conferência. O primeiro, Guarde Aqui estava profundamente envolvido na Asbrass. E este ano senti o mesmo em relação ao Goodstorage. A conferência foi muito útil e trouxe ótimas informações. Mas achei que faltou foco nas instalações menores em todo o Brasil. Acho que ao criar um painel de muitas instalações em outras cidades, isso ajudará a Asbrass a expandir sua conscientização. E sua adesão.